Pais e professores em um mundo de Nativos Digitais
A verdadeira sabedoria digital é sobre relacionamentos. É sobre os tipos de conexões que podemos ter um com o outro. É sobre confiança e equilíbrio. Essas habilidades são complexas. Dizem respeito a entender as normas e a etiquetas em diferentes plataformas, e fundamentalmente, equilibrar liberdade com responsabilidade e segurança.

Em minha atividade de mentoria digital, converso com muitos pais e professores. Costumeiramente, encontro depoimentos como esse: “sinto-me oprimido pela tecnologia na vida do meu aluno da sexta série; minha filha está acessando ferramentas online e sites de mídia social com os quais não estou familiarizado e preciso fornecer mais orientações em sua vida digital. Como podemos limitar o tempo de tela sugerida de uma a duas horas por dia quando as crianças estão usando esses dispositivos na escola o tempo todo? Então eles querem voltar para casa e relaxar um pouco, talvez assistir TV, mas aí precisam retornar a um dispositivo para fazer a lição de casa. Limitar o tempo de tela não parece gerenciável ou realista.”
Outro ainda me fala: “Quando eu era criança, a transmissão de programas na TV era interrompida em determinado momento. Isso forçava a gente a parar de assistir e procurar outra atividade. Muitas vezes me pego navegando no Facebook, assistindo a vídeos idiotas etc. É isso que minha vida se tornou? O que mais podemos fazer para recuperar nossa vida e ajudar nossos filhos a fazer o mesmo?”
Quem são esses “nativos digitais” que estamos criando? E como o mundo deles é diferente daquele que conhecíamos quando estávamos crescendo? Há pouco consenso sobre como ser pai e professor na era digital, e pode ser difícil falar sobre esses assuntos sem se sentir julgado.
Primeiro vamos alinhar nosso entendimento aqui: o termo Nativos Digitais foi introduzido pelo autor Marc Prensky em 2001 para descrever jovens que estão crescendo cercados pela tecnologia digital. Essa geração está acostumada a receber informações muito rápido. Eles gostam de processos paralelos e multitarefas. Faz mais sentido para eles receberem informações gráficas do que textuais. Além disso, são estimulados por gratificações instantâneas e recompensas frequentes. Eles preferem jogos a trabalho “sério”.
A pesquisadora americana Devorah Heitner observa que os nativos digitais também podem ser ingênuos digitais, que podem não ter noção da qualidade das informações que consomem ou da maneira como seus próprios dados estão sendo extraídos. Olha a gente falando novamente em curadoria de conteúdo.
As crianças de hoje fazem parte da geração de conteúdo sob demanda, todos são produtores. Como podemos ajudá-los a se tornarem “sábios” neste novo mundo? Não podemos confundir proficiência digital com boa cidadania digital. Há um erro frequente aqui: como seus filhos e alunos parecem estar em novas tecnologias e plataformas, você pode considerá-los fluentes digitais, e esse é um pensamento perigoso.
A coisa pode ganhar contornos de dramaticidade.
De acordo com a última pesquisa da Dubit Worldwide, crianças de três e quatro anos podem selecionar seus próprios aplicativos, e muitas crianças sabem como fazer vídeos e tirar fotos aos cinco anos, e são constantemente estimuladas a isso. O número de crianças que podem produzir e consumir conteúdo aumentou dramaticamente.
Esta é uma mudança importante - uma coisa é operar o controle e escolher seus próprios programas de TV ou escolher seu conteúdo online, mas outra coisa é poder criar seu próprio conteúdo e compartilhá-lo.
Mas afinal, por que é tão importante guiar nossos nativos digitais pelo mundo em constante mudança da tecnologia? O que está em jogo?
1) Relacionamentos. À medida que as relações interpessoais são cada vez mais conduzidas no mundo digital, a habilidade na condução de relacionamentos por meio da interação digital precisa ser colocada em camadas sobre uma base de valores comportamentais – valores que você pode modelar e ensinar; nesse contexto, não há muita diferença entre nossos relacionamentos convencionais e aqueles no mundo digital.
2) Reputação. Com cada postagem, cada tweet e cada compartilhamento, seu nativo digital está criando uma persona, ao mesmo tempo em que está modelando sua identidade pessoal. É um ato virtual de alto risco, e é quase certo que cometerá alguns erros. Embora ela possa sobreviver a seus deslizes, eles podem ser difíceis e exaustivos de reparar.
3) Gerenciamento de tempo. O mundo digital é ilimitado. Fazer as escolhas certas sobre como e onde passar o tempo é mais difícil do que nunca. Sem orientação as distrações digitais podem levá-lo a desperdiçar grande parte de sua vida, principalmente, em um momento em que as experiências se somam na formação de sua personalidade.
Se eles não aprenderem essas habilidades, terão dificuldades no mundo de hoje e de amanhã. A sabedoria digital não é operacional ou funcional. Não se trata de como usar o teclado ou de como codificar. Qualquer pessoa pode aprender os aspectos técnicos do uso de aplicativos e dispositivos com alguma prática.
A verdadeira sabedoria digital é sobre relacionamentos. É sobre os tipos de conexões que podemos ter um com o outro. É sobre confiança e equilíbrio. Essas habilidades são complexas. Dizem respeito a entender as normas e as etiquetas em diferentes plataformas, e fundamentalmente, equilibrar liberdade com responsabilidade e segurança.
