Volto aqui a um assunto primordial quando nos deparamos com as técnicas de aprendizagem utilizadas em plataformas educacionais. Diz respeito aos aspectos motivacionais que devem balizar a escolha de conteúdos de aprendizagem corporativa. De maneira mais específica, a aprendizagem precisa ser norteada pelos objetivos empresariais, mas também pelas motivações profissionais e pessoais de cada colaborador.

Do ponto de vista técnico, uma maneira que costumeiramente tem sido utilizada para promover esse duplo alinhamento é a gamificação. Nas palavras do pioneiro Yu-kai Chou, há um reducionismo muito grande na conceituação e operacionalização dessa técnica, e isso leva a resultados muito ruins do ponto de vista da efetividade da aprendizagem corporativa. Então, atenção: sem uma estratégia planejada de conteúdo, a gamificação não garante nada.

Vamos analisar mais a fundo isso. Parece que a gamificação, sua mecânica e elementos se baseiam exclusivamente no que chamamos de PBLs: Pontos, Emblemas e Placares (Points, Badges, Leaderboards). Muitos profissionais de gamificação parecem acreditar que, se você colocar pontos em algo chato, adicionar alguns emblemas e fornecer uma tabela de classificação competitiva, esse produto antes chato se tornará automaticamente empolgante.

Claro que também é nisso que muitas plataformas de gamificação se especializam: adicionar PBLs em vários produtos de maneira escalável. E, como resultado, muitas pessoas menos informadas, mas curiosas sobre gamificação, começam a acreditar que a soma total da metodologia e filosofia de gamificação é apenas o processo de adicionar pontos, emblemas e tabelas de classificação aos produtos.

O elemento central a ser trabalhado deve ser o engajamento do aprendiz, e toda a estratégia deve ser elaborada com esse objetivo.

Se você perguntar a qualquer jogador o que torna um jogo divertido, eles não dirão que é por causa dos PBLs. Eles jogam porque há elementos de estratégia e ótimas maneiras de passar o tempo com os amigos, ou querem se desafiar para superar obstáculos difíceis. Os pontos e emblemas costumam ser um bônus que é bom ter dependendo do contexto.

Essa é a diferença entre motivação extrínseca, onde você está engajado por causa de um objetivo ou recompensa, e motivação intrínseca, onde a atividade em si é divertida e excitante, com ou sem recompensa.

Em vez de começar com quais elementos de jogo e mecânicas de jogo usar, o designer pode começar descrevendo qual o objetivo da experiência do aprendiz e como quer que ele se sinta: inspirado, orgulhoso, ansioso?

Mas vamos a um pequeno roteiro. Lembre-se de que durante todo o processo sua perspectiva é diferente da perspectiva do aprendiz ou jogador. O design é feito para ele. Este roteiro tem como base a abordagem MDA (Mechanics, Dynamics, Aesthetics), uma abordagem formal para o design de games, aplicável para a gamificação na aprendizagem. Sugerimos essa abordagem no desenvolvimento de soluções de aprendizagem gamificadas para assegurar que o uso do “pensamento de jogos” é a chave para o sucesso. Os passos deste roteiro são:

Conheça os objetivos do negócio e de aprendizagem. Defina comportamentos e tarefas que serão as metas desta solução. Conheça os seus jogadores. Reconheça o tipo de conhecimento que precisará ser ensinado. Assegure a presença da diversão. Utilize ferramentas apropriadas. Faça protótipos.

Consideremos o ponto crucial: como conhecer e engajar o meu jogador aprendiz. Yu-kai Chou observa que quase todos os jogos de sucesso apelam para certos Core Drives dentro de nós e nos motiva para uma variedade de decisões e atividades. Pontua também que diferentes tipos de técnicas de jogo nos impulsionam de maneira diferente; alguns por inspiração e capacitação, alguns por manipulação e obsessão.

O resultado de seu estudo é um framework de design de gamificação chamado Octalysis, que deriva seu nome de uma forma octogonal com 8 Core Drives representando cada lado. Retornaremos ao tema.