Ensino remoto e recuperação da defasagem educacional.

OSCAR SARQUIS • 2 de julho de 2022

É preciso reforçar as habilidades digitais dos professores para fazer o melhor uso das soluções tecnológicas. São eles que irão recepcionar os alunos, suportá-los dos pontos de vista psicológico e emocional, e engajá-los no processo de criação e colaboração e isso exige amplo domínio de técnicas e ferramentas. Um apoio às instituições públicas e escolas nesse sentido faz-se necessário.


O atraso da educação na América Latina e no Caribe, que já era um problema antes da pandemia de covid-19, ganhou contornos ainda mais dramáticos após o prolongado fechamento de escolas nos últimos dois anos. Uma nova estimativa do Banco Mundial e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), aponta que, na região, quatro em cada cinco alunos do 6.º ano do ensino fundamental não conseguem entender e interpretar textos de maneira adequada.


As perdas de aprendizagem estimadas e observadas são elevadas e mais severas para as primeiras séries – principalmente crianças mais novas e de perfis socioeconômicos mais baixos. As notas médias em leitura e matemática do ensino fundamental caíram para níveis de mais de 10 anos atrás, em um contexto onde as notas já eram muito baixas. Cerca de 4 em cada 5 alunos da sexta série não são capazes de entender e interpretar adequadamente um texto de extensão moderada.


Esses dados foram consolidados em um relatório que leva o nome de Dois anos depois: salvando uma geração. O título é uma chamada à ação para salvar uma geração de estudantes cuja vida escolar foi prejudicada não somente pela pandemia, mas pela interrupção exageradamente longa das aulas presenciais e por deficiências na oferta da educação remota. Ainda que professores e redes de ensino tenham se esforçado, esbarraram na falta de acesso à internet e em deficiências de infraestrutura, além da própria inexperiência docente em educação a distância.


A América Latina e o Caribe sofreram um dos períodos mais longos de fechamento de escolas. Os efeitos da pandemia sobre o setor de educação da região foram graves. A recuperação incipiente deve concentrar-se na volta à escola e, especialmente, na recuperação e aceleração da aprendizagem. Em poucas palavras, esta agenda envolve a implementação urgente e abrangente de quatro compromissos: (i) Um compromisso de colocar a recuperação da educação no topo da agenda pública; (ii) Um compromisso de reintegrar todas as crianças que abandonaram a escola e garantir que permaneçam nela; (iii) Um compromisso para recuperar o aprendizado perdido e garantir o bem-estar socioemocional das crianças; (iv) Um compromisso de valorizar, apoiar e formar professores.


Apesar dos investimentos feitos para apoiar a continuidade da aprendizagem, o ensino remoto enfrentou diversas limitações, que afetaram especialmente os países e grupos mais vulneráveis. O pacote de resposta à aprendizagem a distância enfrentou vários desafios que cercearam seu alcance, participação e qualidade.


Cinco tipos de restrições foram particularmente relevantes na América Latina e no Caribe: (I) as condições irregulares da conectividade na região; (ii) o acesso limitado aos dispositivos necessários ao ensino a distância, especialmente para grupos vulneráveis; (iii) as complexidades da implementação da estratégia de resposta específica, sujeita a diferentes pontos positivos, limitações e requisitos de cada canal de aprendizagem a distância; (iv) falta de preparação dos professores para a aprendizagem remota; e (v) restrições institucionais.


Observa o relatório que dados recentes compilados para 12 países na América Latina e Caribe demonstram que somente 1 em cada 4 domicílios possui acesso à Internet, com diferenças significativas entre os países. Por exemplo, enquanto 40% de todos os domicílios em países como Panamá e Colômbia relatam ter acesso à internet, esse indicador é inferior a 15% em países como a Guatemala e Haiti. A qualidade da conectividade também é uma restrição importante para a escolaridade e a aprendizagem e grupos vulneráveis, como estudantes afrodescendentes têm acesso significativamente mais limitado à internet e a um computador em casa, em comparação com seus colegas não afrodescendentes.


Diz ainda que novas evidências regionais confirmam que a prestação de educação remota, especialmente com as múltiplas limitações mencionadas acima, não conseguiu garantir o engajamento nas atividades educacionais em casa e na qualidade da aprendizagem. Observa-se que o melhor cenário cotejado no relatório não é nem de longe o que se espera para a implementação de estratégias de acesso remoto compatíveis com os desafios encontrados.


Outro ponto mencionado foi que a pandemia também afetou a saúde psicossocial e o bem-estar de professores e estudantes, e mostrou, ao mesmo tempo, a importância das competências digitais. A pandemia revelou grandes lacunas nas habilidades digitais, enquanto oferece oportunidades para a melhoria dessas habilidades. Mais do que nunca, os sistemas educacionais e as escolas foram pressionados a adotar ferramentas que pressupunham um certo grau de competência digital. Isso causou grande tensão nos professores, alunos e pais, embora também tenha aumentado a exposição a essas aptidões e oportunidades para reforçar as ferramentas e estratégias destinadas a desenvolver essas competências críticas.


Por fim, o relatório apresenta uma série de sugestões relacionadas a cada eixo de atuação para a recuperação da situação educacional geral, com ênfase importante na abordagem das lacunas digitais, com foco na melhoria geral da conectividade dos alunos, habilitação digital para alunos e professores e adequação institucional no âmbito público para implementação dessas medidas, sobretudo a criação de mecanismos de estímulo a utilização de ferramentas e metodologias inovadoras de aprendizagem em plataformas digitais.


É preciso reforçar as habilidades digitais dos professores para fazer o melhor uso dessas soluções tecnológicas. São eles que irão recepcionar os alunos, suportá-los dos pontos de vista psicológico e emocional, e engajá-los no processo de criação e colaboração e isso exige amplo domínio de técnicas e ferramentas.  Um apoio às instituições públicas e escolas nesse sentido faz-se necessário.



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